sexta-feira, 24 de abril de 2015

Porque é urgente falar, porque é urgente lembrar, porque é urgente...

Abril

Havia uma lua de prata e sangue
em cada mão.

Era Abril.

Havia um vento
que empurrava o nosso olhar
e um momento de água clara a escorrer
pelo rosto das mães cansadas.

Era Abril
que descia aos tropeções
pelas ladeiras da cidade.

Abril
tingindo de perfume os hospitais
e colando um verso branco em cada farda.

Era Abril
o mês imprescindível que trazia
um sonho de bagos de romã
e o ar
a saber a framboesas.

Abril
um mês de flores concretas
colocadas na espoleta do desejo
flores pesadas de seiva e cânticos azuis
um mês de flores
um mês.

Havia barcos a voltar
de parte nenhuma
em Abril
e homens que escavavam a terra
em busca da vertical.

Ardiam as palavras
Nesse mês
e foram vistos
dicionários a voar
e mulheres que se despiam abraçando
a pele das oliveiras.

Era Abril que veio e que partiu.

Abril
a deixar sementes prateadas
germinando longamente
no olhar dos meninos por haver.


                                   José Fanha


A madrugada da noite

Tantas estrelas sem brilho
Planetas obscurecidos
Este, o nosso, adormecido
Na longa noite de frio.
Foram tantas as derrotas!
E botas, chaimites, caixões,
Indeléveis nos papéis,
De aerogramas funestos…
Quimeras, mães e noivas.
Destroçadas-
As vidas, o sonho…
E os lenços agitados
No embarque.
Mas abril surgiu, abriu, conseguiu…
E do medo se fez luta!
E da luta labuta…
Constante, serena, impoluta.
E a rua se fez festa
Na madrugada d’abril.
E a vida sorriu…
E este planeta, o nosso, rodou
E uma nova manhã nasceu!

Otília
24 de abril de 2014

Sem comentários:

Enviar um comentário