Abril
Havia uma lua de prata e sangue
em cada mão.
Era Abril.
Havia um vento
que empurrava o nosso olhar
e um momento de água clara a escorrer
pelo rosto das mães cansadas.
Era Abril
que descia aos tropeções
pelas ladeiras da cidade.
Abril
tingindo de perfume os hospitais
e colando um verso branco em cada
farda.
Era Abril
o mês imprescindível que trazia
um sonho de bagos de romã
e o ar
a saber a framboesas.
Abril
um mês de flores concretas
colocadas na espoleta do desejo
flores pesadas de seiva e cânticos
azuis
um mês de flores
um mês.
Havia barcos a voltar
de parte nenhuma
em Abril
e homens que escavavam a terra
em busca da vertical.
Ardiam as palavras
Nesse mês
e foram vistos
dicionários a voar
e mulheres que se despiam abraçando
a pele das oliveiras.
Era Abril que veio e que partiu.
Abril
a deixar sementes prateadas
germinando longamente
no olhar dos meninos por haver.
José Fanha
A madrugada da noite
Tantas estrelas sem brilho
Planetas obscurecidos
Este, o nosso, adormecido
Na longa noite de frio.
Foram tantas as derrotas!
E botas, chaimites, caixões,
Indeléveis nos papéis,
De aerogramas funestos…
Quimeras, mães e noivas.
Destroçadas-
As vidas, o sonho…
E os lenços agitados
No embarque.
Mas abril surgiu, abriu, conseguiu…
E do medo se fez luta!
E da luta labuta…
Constante, serena, impoluta.
E a rua se fez festa
Na madrugada d’abril.
E a vida sorriu…
E este planeta, o nosso, rodou
E uma nova manhã nasceu!
Otília
24 de abril de 2014
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